Faltam intérpretes nas escolas da rede estadual do Ceará
Assistir à explicação do professor na sala de aula e não poder compreendê-la. É esse o sentimento dos alunos surdos das escolas estaduais regulares de Fortaleza que seguem o modelo da educação inclusiva. O motivo é a falta de intérpretes acompanhando as aulas, iniciadas no último dia 21. Na Escola de Ensino Fundamental e Médio Renato Braga, os alunos das salas exclusivas para surdos que estudam à noite são mandados de volta para casa porque os professores não conhecem a linguagem dos sinais.
Pela manhã, quando misturam-se surdos e ouvintes, as aulas são ministradas, mas nem todos compreendem. Os alunos portadores de deficiência auditiva permanecem na sala, observam tudo, mas são excluídos da explicação. Ao todo, são mais de 60 estudantes prejudicados na escola. “Dessa maneira, o deficiente sofre maior discriminação da sociedade, numa demonstração de falta de respeito e atenção do poder público”, lamenta o diretor da escola, Ivan César Félix Rodrigues.
É exatamente assim que se sente Luís Nascimento Lopes, 18 anos, aluno do primeiro ano do Ensino Médio. O momento mais complicado, segundo ele, é quando o professor se vira para a lousa e continua falando. Ele relata que todos os seus colegas também estão bastante chateados com a situação da escola.
A falta de intérpretes prejudica também os alunos do Instituto Cearense de Educação de Surdos. As aulas de informática e Língua Brasileira de Sinais (Libras), disciplina fundamental do currículo escolar desses estudantes, estão paralisadas por falta de intérprete.O mesmo ocorre com o Centro de Apoio ao Surdo (CAS), que ministra aulas de Português e Inglês, além de ensinar Libras a 12 turmas compostas por familiares dos alunos e interessados no aprendizado.
Rafael Oliveira, estudante da 8ª série no Instituto, mostra-se descontente com a falta das aulas. No horário em que deveria estar aprendendo Informática, teve que se ocupar com outras atividades para não ir para casa mais cedo. Os professores que ainda não têm prática com a Libras também estão encontrando dificuldades durante as aulas, mas se esforçam ao máximo. Apesar disso, estão sem as aulas avançadas no CAS, onde exercitavam a linguagem dos sinais.
O Instituto Cearense de Educação de Surdos atende 946 alunos, entre crianças, adolescentes e adultos, divididos em 58 turmas de Ensino Fundamental.
Fonte: Diário do Nordeste